

O fogo que mata e queima o que resta de pastagem é também o fogo que ajuda a salvar os animais castigados pela seca no semiárido. O mandacaru e o xique-xique, cactos nativos da região, são o último recurso para alimentar o gado que agoniza sem comida e água para beber.
O mandacaru é queimado para torrar os espinhos, mas a fome é tanta que o gado come o cacto ainda em chamas. É a desesperada luta pela vida na região sisaleira. Vivendo esse drama, o município de Nova Fátima, que já teve um rebanho bovino superior a 12 mil animais e uma produção de leite acima de 25 mil litros/dia, hoje está restrita a 4 mil.

“O município está arrasado: motores parados, sisal dizimado, rebanho bovino reduzido em 40% e não há água e pastagens. Seria muito bom se conseguíssemos alguma obra para que pudéssemos empregar as pessoas que não tem o que fazer na roça. Estou de cabeça quente e perdido, sem saber o que fazer. A administração está praticamente parada nesses primeiros 100 dias de mandato. Dos oito mil habitantes do município, na sede tem 5 mil morando em Nova Fátima. A base econômica está restrita ao funcionalismo municipal, estado, aposentados e Bolsa Família. Nova Fátima está se tornando uma cidade de velhos e “fantasma”, por conta da saída dos jovens que estão fugindo para São Paulo, Fortaleza, Mato Grosso (colheita de cana), Salvador e Camaçari, em busca de trabalho e os que estão ficando aqui, são as mulheres e os velhos”, relatou à Tribuna o prefeito Amado Moreira da Cunha (PR).

O mesmo acontece com a unidade de refrigeração que antes recebia cerca de 5 mil litros do produto/dia e agora não passa de 300. Já o administrador da Fazenda Poço da Pedra, Paulo Celso Cunha Ferreira, revelou que a propriedade que já teve mais de 300 cabeças de gado e já chegou a comercializar quase 400 litros de leite/dia, agora não vende 40 e lembra que a perda de animais na propriedade tem sido significante e só tem mandacaru como ração.
A agricultora Luiza Carneiro, Fazenda Lagoa de Dentro, disse que a situação é preocupante e está dando o cacto, xiquexique queimado para o rebanho bovino que já foi de 60 cabeças e hoje não passa de 20. Ela relata que as pastagens estão dizimadas e a única fonte de alimentação para o rebanho tem sido o xique-xique e mandacaru. Ela diz ainda, que já chegou a vender a arroba de boi a R$ 120 e agora não acha R$ 80.
Para a doméstica Raimunda Lopes Carneiro, 71 anos, moradora da Fazenda Ingazeira, a seca está braba e água para os animais só existe nos poços no leito do rio Jacuípe, assim mesmo com alto teor de salubridade. A também moradora da Fazenda Ingazeira, Maria Olívia da Silva Machado, 47 anos, mãe de três filhos, relatou que tem a Bolsa Família, como complemento da renda familiar e que há mais de dois anos que o rio Jacuípe deixou de ser corrente.
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