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O auxiliar de serviços Caio Silva de Souza, de 22 anos, preso sob
suspeita de acender e soltar o rojão que matou um cinegrafista da TV
Bandeirantes em um protesto no Rio de Janeiro na semana passada, teria
usado um nome falso para se hospedar na pousada Gonçalves, perto da
rodoviária de Feira de Santana (BA), onde ele foi preso na madrugada
desta quarta-feira (12). A informação é de Ergleidson de Jesus Moreira,
recepcionista do estabelecimento.
Segundo Ergleidson, o suspeito se identificou como Vinícius Marcos de
Castro e usou dinheiro para pagar a hospedagem. “Ele chegou sozinho
ontem [terça-feira] à tarde. Ele pagou a diária de R$ 30 à vista, em
dinheiro, e foi para o quarto, de onde quase não”, relata o
recepcionista.
Ergleidson afirma que nenhum hóspede chegou a desconfiar do suspeito,
que só deixou o quarto uma vez para atender uma ligação. “Ninguém o
reconheceu. Eu só o vi em um momento, quando um homem ligou para a
pousada dizendo que era irmão dele, perguntando o nome com que ele se
identificou. Essa pessoa disse que estava chegando a Salvador e vinha
para cá e que era para reservar seis apartamentos. Aí eu passei a
ligação para ele”, diz.
O funcionário conta ainda que Caio estava tranquilo e que não chegou a
levantar suspeitas. “Ele estava calmo o tempo todo. Por volta das 2h, a
polícia chegou aqui e fui eu que atendi. Já vieram com toda informação e
decretaram voz de prisão. Nenhum hóspede saiu dos seus apartamentos e a
ação durou de 10 a 15 minutos. Depois eu fui pesquisar na internet e vi
quem era”, conta.
Segundo outro funcionário do estabelecimento, Marcos Paulo Costa dos
Santos, responsável por registrar a entrada do suspeito na pousada, ele
não apresentou documento de identidade. “A gente só exige quando é menor
de idade. Quando é maior, se não tiver, a gente deixa”, acrescenta.
Prisão
O voo que leva Caio para o Rio de Janeiro está previsto para chegar ao
aeroporto do Galeão às 8h40 desta quarta-feira, de onde será levado para
a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, no subúrbio da cidade.
A prisão foi efetuada pelo delegado que investiga o caso, Maurício
Luciano de Almeida e Silva, da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Ele
estava acompanhado do advogado de Caio, Jonas Tadeu, que também defende
outro rapaz envolvido no caso, Fábio Raposo, que está preso no Rio.
Caio Souza contou após a prisão que pretendia fugir para a casa de um
avô no Ceará, quando foi convencido por telefone pela namorada a se
entregar à polícia. Apontado como responsável por acender e posicionar o
rojão que causou a morte do cinegrafista Santiago Andrade, ele alegou
logo após a prisão que não sabia que o artefato era um rojão, e sim o
explosivo conhecido como “cabeção de nego”. Ele pediu ainda desculpas
pela “morte de um trabalhador, como ele própio, sua mãe e seu pai”.
Na quinta-feira (6), o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago
Ilídio Andrade gravava imagens de uma manifestação contra o aumento das
passagens de ônibus no Centro do Rio, quando foi atingido na cabeça pelo
rojão. Ele teve morte cerebral na segunda (10), depois de passar quatro
dias em coma no Hospital Souza Aguiar.
De acordo com a polícia, é Caio Souza quem aparece nas imagens
registradas por fotógrafos e cinegrafistas usando calça jeans e camisa
cinza suada.
O Disque-Denúncia havia divulgado um cartaz pedindo informações sobre
o paradeiro de Caio Souza, que é auxiliar de serviços gerais em uma
empresa prestadora de serviço do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande,
Zona Oeste do Rio.
Durante todo o dia, policiais fizeram buscas em várias regiões do
estado para prender Caio. Segundo a polícia, a família dele mora na
Baixada Fluminense. Os agentes estiveram em outros endereços, mas ele
não foi encontrado no Rio.
Registros na polícia
O delegado que investiga o caso informou que foi Fábio Raposo quem
apontou Caio Silva como responsável pelo disparo de rojão que atingiu o
cinegrafista. O suspeito foi identificado através de uma foto mostrada a
Fábio Raposo, que teria contado também que conhecia Caio de outros
protestos e que o suspeito tem um perfil violento.
Caio Souza tem quatro registros na polícia do Rio. Em 2008, deu
queixa dizendo ter sido agredido pelo irmão. Em 2010, foi levado duas
vezes à delegacia por suspeita de porte de drogas, mas não chegou a ser
acusado. E, em 2013, foi à polícia dizer que tinha sido agredido em um
protesto no Centro do Rio.
Caio Souza e Fábio Raposo foram indiciados por homicídio doloso
(quando há intenção de matar) qualificado por uso de artefato explosivo e
crime de explosão. Se forem condenados, podem pegar até 35 anos de
prisão.